CAPÍTULO 9 - OBEDIENTE ATÉ A MORTE, JESUS REVELA O ROSTO DO PAI




 
            Jesus é o Filho de Deus. Isto tem a ver com o seu relacionamento com Deus e com a constituição da sua pessoa. Isto não se prova, mas se aceita na fé e foi objeto de lenta descoberta por parte dos cristãos. Jesus é o Messias. Isto tem a ver com o seu relacionamento com os homens e com a sua missão dentro do Plano de Deus. É da total gratuidade do Pai de Ele não ter mandado qualquer um para realizar a missão do Messias, mas o seu próprio Filho.

            Sendo rico, ele se fez pobre!” (2 Cor 8,9). Aqui está uma opção radical que não pode ser desfeita por nenhum raciocínio. Jesus não era cidadão romano, não tinha nenhum título, não fez curso com Gamaliel, não estudou em Jerusalém, não tirou diploma; na sua apresentação no templo os pais fizeram a oferta dos pobres –duas pombas- (Lc 2,24); não era sacerdote nem de família sacerdotal, não era levita nem fariseu, não era escriba nem zelote, nem publicano, nem essênio, nem saduceu. Jesus era um leigo, operário-agricultor, vindo da Galiléia, onde a instabilidade social era muito grande. Na comunidade local não era presbítero nem coordenador. Não tinha a proteção de nenhuma classe. Era conhecido como o carpinteiro (Mc 6,3) ou filho do carpinteiro (Mt 13,55), viveu trinta anos em Nazaré (Lc 3,23), não casou; nasceu fora de casa numa estrebaria e, assim, desde o seio materno sofreu as consequências do sistema opressor dos romanos. 

            O que para uns é condenação do destino e do sistema para Jesus se torna e é manifestação da vontade do Pai. O Pai revela aqui a sua preferência. Jesus vai ficar fiel ao Pai, ficando do lado dos pobres até à morte! Ficar do lado dos pobres, do povo sofredor, era o mesmo que ficar do lado do Pai: “Eis-me aqui para fazer a tua vontade!” (Heb 10,7.9).

            Não foi fácil ficar agarrado ao Pai e ao povo pobre. Sofreu e foi tentado para entrar por outros caminhos (Mt 4,1-11; Mc 8,33). Teve que aprender o que é obediência, (Heb 5,8) mas venceu através da oração (Heb 5,7; Lc 22,41-46) Difícil é sentir na carne a fraqueza a qual é condenado o homem empobrecido. Jesus nunca buscou uma saída individual, nunca buscou privilégios para si. Nasceu pobre, o que era expressão da vontade do Pai. Escolheu ficar ao lado dos pobres, o que era decisão do Filho, querendo ser obediente ao Pai até à morte, e “morte de cruz” (Fil 2,8).

            Vivendo e anunciando a Boa Notícia do Reino, Jesus vai provocando conflitos (Mc 1,2-3,6). Quase todos querendo puxá-lo para o seu lado, e ele não cede nem se desvia. No fim, ele ficou só, abandonado por todos (Mc 14,50). Só ficaram algumas mulheres e João, ao pé da cruz! (Jo 19,25). Aqui se revela o mistério profundo que envolve a pessoa de Jesus: o Pai! Jesus não cabe nas nossas idéias, não pode ser reduzido ao tamanho dos nossos pensamentos e idéias. Ninguém podia nem pode dizer: “este é um dos nossos! A gente vai poder aproveitar-se dele para alcançar os nossos objetivos!”. Todos se sentiam interpelados pela prática e pela mensagem de Jesus a fazer a conversão, a mudança de mentalidade. Só os pobres podiam dizer: “Este é dos nossos! Ele quer bem a nós do jeito que nós somos. Ele não vem até nós com intenções interesseiras nem vem nos manipular!”.

            Pela sua ação e pela sua mensagem, Jesus faz brilhar sobre a vida, tanto individual como coletiva, a face do Pai. Revelando o Pai em gestos bem concretos, revelava ao mesmo tempo a podridão do sistema, anunciava a possibilidade de um novo céu e uma nova terra. O Pai é o eixo escondido da vida de Jesus e a Ele ficava unido através da oração.

            Ligado ao Pai, Jesus recusa a tentação do messias nacionalista, populista e racista. Rejeita o que era contra a vontade do Pai e contra o povo empobrecido. E na hora da morte (no momento extremo do cumprimento de sua missão), morre acreditando que a vida pisada é mais forte que o poder que pisa, mais forte que a morte. Morre acreditando que Deus liberta o seu povo com poder criador que vence a morte. E ressuscitou!

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